sexta-feira, 13 de julho de 2012

Kolejka.

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Uma fila, na Polónia do comunismo



Tinha lido em qualquer lado que o jogo  Monopólio tinha sido inventado a uma mesa de cozinha, durante a Grande Depressão, para passar as noites a sonhar com a aquisição de grandes propriedades. Pelos vistos, a Wikipedia dá uma informação diferente. A ideia remonta a 1904 e o Monopoly, na versão que hoje conhecemos, só apareceu em 1934.



O Monopólio: a chave da vitória dos Aliados




Durante a 2ª Guerra, os serviços secretos britânicos criaram uma versão do jogo que continha informações que ajudavam os prisioneiros a fugir (aqui). Os alemães, para preservar a imagem de governantes humanitários, deixaram entrar nos campos de prisioneiros milhares de tabuleiros enviados através da Cruz Vermelha. Cerca de 35.000 prisioneiros Aliados conseguiram fugir dos campos nazis, muitos deles com a ajuda do Monopoly. Durante décadas, o segredo manteve-se e só há pouco se soube da ajuda que aquele jogo de sociedade prestou à causa dos Aliados.

Durante a Guerra Fria, o Bloco Leste esteve mais atento aos riscos de um jogo ferozmente capitalista, cujo móbil era o lucro e que ostentava como símbolo um milionário de cartola. Por isso, só em 1987 foi autorizada a sua comercialização na União Soviética.
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Kolejka, o jogo criado em 2011
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Recentemente, foi criado na Polónia um sucedâneo do Monopólio. «A Fila», é o seu nome. Ou Kolejka, se preferirem a língua original. Nesse jogo, concebido em parceria com o Instituto Polaco da Memória Nacional, os participantes revivem os tempos do comunismo, numa revisitação satírica do passado que se está a converter em moda no Leste da Europa. Os jogadores não têm de adquirir ruas ou hotéis, como nos monopólios ocidentais. Têm de permanecer em filas, na busca de bens essenciais, como nos tempos do colectivismo dos supermercados vazios. Como a coisa se arriscava a tornar-se o jogo mais enfadonho do mundo – à semelhança das décadas de quotidiano além-Cortina de Ferro –, existem atalhos e outras peripécias: mercado negro, «amigos» do Partido que abrem as portas a armazéns especiais para apparathchiks, fraudes e aldrabices, como a da mãe com um bebé ao colo que avança lugares na fila. O objectivo é adquirir mais depressa do que os concorrentes os bens constantes de uma lista de compras de produtos básicos: manteiga, papel higiénico, cigarros, gasolina. Ganha quem primeiro comprar o que estava na sua lista de compras.


Kolejka, brincar às filas do comunismo


Como refere um historiador polaco, «Kolejka já foi qualificado como o jogo mais aborrecido do mundo. Mas perguntem a alguém que viveu num país comunista em 1970 ou 1980 e ele vos dirá que o jogo nada tem de aborrecido. Esperar seis horas numa fila para comprar carne em algo habitual nessa época. Para comprar móveis vulgares, tínhamos de esperar várias semanas».      

Segundo o Le Monde, já foram vendidos mais de 20.000 tabuleiros na Polónia, muitos dos quais são usados nos liceus como auxiliares do ensino da História nos liceus. Kolejka, um passado que não quer passar.


António Araújo

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