domingo, 14 de julho de 2013

Walter.

. . .
.
.



Não sendo rara ou sequer incomum, a história de Walter é das mais desconcertantes que já contei no Malomil. Walter nasceu e viveu poucos minutos, e os pais decidiram contar a história da sua nascença e morte e publicar estas fotografias que não devem ser vistas por pessoas impressionáveis. Ninguém tem o direito de criticar a opção dos pais de Walter. Poderão dizer que é mórbida e macabra, mas também poderão dizer que esta foi a forma que os pais de Walter encontraram para expressar o seu amor por ele – ou exorcizar a dor pela sua ausência. Poderão dizer que esta é uma exposição inconcebível da intimidade. Mas quem, senão o próprio, define o que é a sua intimidade? Bem, e basta ir ao Google e fazer dois clic's na palavra porn e encontrarão muita e muita exposição de intimidade por essa Net fora. Será legítimo impor que o luto seja íntimo e privado? Não. Antigamente, o luto era escandalosamente público, com choros gritados e carpideiras de serviço. Depois, a morte tornou-se matéria sigilosa, classificada, que deveria ser resguardada dos olhares alheios. Agora, é exposta assim, desta forma. Mas será a morte o que aqui verdadeiramente se expõe? Não sei, nem sequer isso sei. Daí o meu desconcerto perante a história de Walter. Quem quiser, opine. Eu não consigo.
 
 
António Araújo
 
 
 


Sem comentários:

Enviar um comentário