domingo, 18 de agosto de 2013

BabyTV.











Sobre televisão existe um grande livro, publicado entre nós pela Antígona, em 1999. Apesar de alguns exageros, aqui e ali, não me canso de o recomendar: Quatro Argumentos Para Acabar com a Televisão, de Jerry Mander.

         A Baby TV dá-nos mais um argumento para desligar a televisão.  É anunciada como «O mundo dos bebés no canal 46 da Meo». Um canal para bebés?! No momento em que estou a escrever estas linhas, a Baby TV está a emitir o programa Calma e Tranquilidade. De que trata? «Relaxing canções & histórias acompanhadas por música suave». Pelas 21h00, terá início Bons Sonhos. É sobre quê? «Relaxing canções & histórias acompanhadas por música suave». Às 23h30, sempre uma boa hora para os bebés começarem a ver televisão, teremos Noites Sonhadoras. Conteúdo? «Relaxing canções & histórias acompanhadas por música suave»

 
 



         Temos, portanto, à nossa disposição horas e horas de «Relaxing canções & histórias acompanhadas por música suave». É só colocarem os seus filhos, de meses ou poucos anos, à frente de um televisor e poderão os pais ter direito a um merecido «relaxing canções & música suave…». Como é evidente, a BabyTV não se apresenta desta forma. Pressentindo a indignação daqueles que vêem nisto um sério perigo para o desenvolvimento saudável das crianças (estamos a falar de bebés, atenção!), a BabyTV defende-se preventivamente, dizendo que os seus programas foram concebidos com o apoio de «especialistas». E, sintomaticamente, insiste vezes sem conta na necessidade de envolvimento dos pais no visionamento partilhado das «relaxing canções & música suave».


         Não sei o que os nossos pediatras acham disto. Não sei qual o parecer dos «especialistas». A mim, e sem qualquer ofensa para a BabyTV e para quem a produz e consome, parece-me que os riscos de os pais largarem os filhos frente ao écran superam – e em muito! – quaisquer vantagens «pedagógicas» que se possam retirar de horas a fio na contemplação passiva de bonecos coloridos ao som de música «suave». Dirão que a responsabilidade cabe, em primeira linha, aos pais. Sem dúvida, como em tudo o que à educação dos filhos diz respeito. Simplesmente, e que eu saiba, os pais ainda nada disseram sobre a BabyTV. A favor ou contra, desconheço que reacção tenha havido por parte dos educadores portugueses (mas, reconheço, é possível que exista). Este silêncio dos pais não é, em si mesmo, sintomático? Esta passividade acrítica não indicia que a BabyTV pode representar efectivamente um risco sério para as nossas crianças?
  
António Araújo
 
 

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