sábado, 7 de fevereiro de 2015

Manuel de Lucena.

 
 
 
 



 
Sempre considerei o Manuel um dos homens mais inteligentes, perspicazes e cultos que conheci. Aprendi mais com ele do que com a maior parte dos meus colegas, portugueses ou estrangeiros. Há dias, reli a Autobiografia de G. K. Chesterton. Foi então que notei algumas semelhanças entre este católico inglês e o Manuel. Não falo da mais óbvia, a excentricidade, mas de uma outra, a distracção. Eis apenas um exemplo do que poderia ter acontecido ao Manuel.

 
G. K. Chesterton decidira proferir uma conferência algures no norte de Inglaterra. A meio da viagem notou que se esquecera do local onde era suposto ir, pelo que, na primeira estação, saiu, a fim de mandar à mulher o seguinte telegrama: «Estou em Market Harborough. Onde deveria estar?» O seu espírito era ocupado por coisas por ele tidas como mais importantes do que prazos, datas e compromissos.
 

Ainda há pouco, tendo combinado almoçar com ele, pediu-me para lhe ligar meia hora antes, não fosse esquecer-se do encontro. Assim fiz. O telefone tocou, tocou, tocou, mas ninguém atendeu. No dia seguinte, explicou-me que tinha perdido «o telefone fixo». Pensei que estava a brincar. Em parte, a culpa era minha, uma vez que julgava que este tipo de telefones estava ligado à parede por um fio. Acabámos por não almoçar: eu adoeci e ele perdeu o meu número de telefone.
 
 

                            Maria Filomena Mónica
 

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