domingo, 29 de março de 2015

Armando Sevinate Pinto (1946-2015).

 
 
 
 
         Andávamos pelos Açores, com vacas e mares ao fundo, quando me falou de «uma rapariga nova que apareceu agora, a cantar com um vozeirão». Que tenha sabido da existência de Amy Jade Winehouse através de Armando Sevinate Pinto é coisa que não me surpreende. Apesar de ter nascido em 1946, o Armando sempre foi muito mais novo do que eu. Aliás, era essa sua juventude de espírito que o levava a ver o mundo com uma candura e uma ausência de cinismo que, isso sim, são coisas que me surpreendem.
 
         Não é fácil definir aquilo a que se chama «um senhor», ainda que saibamos de imediato sempre que um deles nos aparece pela frente. O Armando Sevinate Pinto era um senhor pois não precisava de fazer nada para sê-lo. Era assim, o charme em pessoa, com uma naturalidade completa, sem ademanes mundanos nem pretensiosismos caricatos. Foi o único homem que conheci que se comportava exactamente da mesma maneira no meio de um campo de terra ou sob as luzes de um salão dourado. A fleuma afectuosa, a autenticidade total.
 
         Dele falarão melhor os que melhor o conheceram. Por mim, resumo-o assim: era incapaz de ter sentimentos maus. Imune à inveja e à vaidade, de nada guardava rancores ou ressentimentos, tendo enorme complacência pelas misérias dos outros. Por isso, atravessou a vida em suave felicidade.  
 
O ano começa aziago: primeiro Miguel Galvão Teles, depois Manuel de Lucena, agora Armando Sevinate Pinto. É uma geração que passa, está certo. Mas duvido que a seguinte seja melhor do que esta. Que agora parte, aos poucos.
 
António Araújo  





4 comentários:

  1. A pedido de Fátima Patriarca, a quem agradeço:

    Hoje, ao ler a notícia da morte de Sevinate Pinto, estremeci. Ainda tinha presente o seu olhar luminoso a explicar-nos, no programa de Medina Carreira, o estado actual da nossa agricultura. Fiquei, então, presa ao écran a beber as suas palavras. Nesse dia muito aprendi. Obrigada pelo texto que lhe dedicou.

    Fátima Patriarca




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  2. E não será que pensamos sempre assim, que os que partem são melhores que nós e que eles, os que se nos seguirão? Há gente boa em todas as idades. Mas a educação de hoje não estimula os mesmos valores. Não sei ainda se haver outros é assim tão mau. Se aqueles em que fomos educados e que estamos a perder - mas pelo visto estivemos sempre a perdê-los, basta ler o Eça e comparar - são essenciais. Mas isso, só o futuro determina.

    Paz a Sevinate Pinto que desconheci mas acredito fosse pessoa a merecer o nosso tempo.

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  3. A pedido de Manuel Fazenda Lourenço, a quem agradeço:



    Caro António Araújo,

    li hoje no Malomil a sua notícia sobre a morte do Armando Sevinate Pinto.
    Estou a utilizar este meio porque não consegui introduzir um comentário. Eu não estou nas redes sociais e sou um nabo nessas coisas (e noutras).

    Estou muito emocionado. Conheci o Armando pouco depois do 25 de abril na Direcção Geral do Comércio Interno, onde trabalhámos os dois algum tempo. As nossas visões políticas eram e foram sendo diferentes, mas tive sempre por ele uma grande admiração, respeito e afecto.

    O Armando Sevinate Pinto foi das pessoas melhores e mais decentes que conheci em toda a minha vida. Nada consigo acrescentar às palavras do António Araújo. Só o meu obrigado.

    Ficámos mais pobres e desamparados.

    Manuel Fazenda Lourenço

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