quarta-feira, 6 de maio de 2015

Penteados e Adornos Femininos das Indígenas de Angola.

 
 








Ao publicar estas imagens da  exposição Penteados e Adornos Femininos das Indígenas de Angola, promovida em 1951 pela Agência Geral das Colónias, sob o patrocínio do Ministro das Colónias, e muitas outras do mesmo teor que tenho divulgado  aqui, há uma interrogação que me assaltou: até que ponto aquilo a que assistimos, um novo interesse pelo tempo colonial (sobretudo no que se refere ao seu imaginário), não significa uma nova forma de colonialismo? Ou, pelo menos, um revisitar da atracção pelo «exótico» que marcou o século XIX e se prolongou até meados do século XX?
         Em si mesmo, isso nada tem de censurável. Por exemplo, na publicação das imagens destas mulheres – alguém duvida? – não existia apenas um propósito político, propagandístico, colonizador, o que se quiser. Havia também, queiramos ou não, um gosto voyeur, dentro dos estritos limites da moralidade vigente, na contemplação de corpos desnudados e seios de mulheres.
         E agora, no nosso tempo, o renovado interesse por este universo tropical, sobretudo ao nível imagético e iconográfico, não tem algo de revivalista? A questão é mais funda do que falar-se do «remorso do homem branco», para usar as palavras de Pascal Bruckner; e, obviamente, deve ser vista com serenidade. Não é, entendamo-nos, um ataque rasteiro aos post-colonial studies. Dizer que os estudos pós-coloniais são, em si mesmos, uma forma de «colonialismo académico», praticado no conforto dos gabinetes das universidades do Ocidente, é coisa que não faz sentido. Mas faz sentido – e, provavelmente, já alguém falou disto – perguntar se a revisitação do imaginário colonial não devia, ela própria, ter consciência da sua «pulsão exótica» e incorporar essa autocrítica nos trabalhos que desenvolve. Será, não será? Aqui fica a pergunta.
 
António Araújo
 
 
 


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