domingo, 10 de janeiro de 2016

Nietzsche nazificado.



 


 
 
No 90º aniversário de Mein Kampf (I)

Nietzsche nazificado
ou
De como o seu pensamento foi deturpado e falsificado pelos nazis
 
 
 
 
“A alma alemã tem galerias e corredores dentro de si,
há nelas cavernas,
                                                    esconderijos, masmorras; a sua desordem tem muito de encanto misterioso;
                                                                               o alemão conhece bem os caminhos furtivos para o caos.”
 
                                                   Nietzsche, Para além do Bem e do Mal (1886).
 
 

John Heartfield

 
Otto Strasser comprova, no seu livro de memórias Hitler e eu, até que ponto o Mein Kampf (2 vols., 1925 e 1926) de Hitler seria, apesar de best-seller, o livro mais ignorado da Alemanha, até entre nazis. A verdade é que, apesar do seu crescente êxito editorial, o Mein Kampf foi, na verdade, um livro que raros liam, mesmo entre os seguidores do Führer. O mesmo dirigente nazi – e futuro dissidente –, explicava alguns dos defeitos essenciais desta tão pouco lida bíblia racista e ultra-nacionalista, assim como referia os principais ideólogos que a tinham inspirado:
Mein Kampf, em estado bruto, era um verdadeiro caos de lugares comuns, de reminiscências escolares, de juízos subjectivos, de rancores pessoais. Leituras políticas mal digeridas misturavam-se ali com discursos antigos de um Lueger (fundador do Partido Cristão-Social na Áustria) ou de um Schönerer (chefe do Partido da Grande Alemanha) e anti-semita que tinham formado os Alemães dos Sudetas durante a dupla monarquia.
Encontrava-se ali Huston Chamberlain assim como Lagarde, dois autores cujo pensamento tinha sido transmitido a Hitler pelo pobre Dietrich Eckart; reconhecia-se cóleras anti-semitas de Streicher,[1] as suas opiniões sobre os excessos sexuais dos judeus e as visões engenhosas de Rosenberg sobre política estrangeira. Tudo aquilo estava redigido no estilo dum aluno do sexto ano, que seria de esperar deveras mais claros no futuro. Um capítulo., creio que do Padre Staempfle, que reviu a obra inteira, um só capítulo se mostrava inteiramente original, naquele em que se trata de propaganda.
 
 
John Heartfield
 
 
 
 
O Padre Staempfle, um eclesiástico de uma grande erudição, chefe de redacção do jornal diário de Miessbach, trabalhou durante meses para ordenar e condenar os pensamentos que se exprimiam no Mein Kampf; eliminou os erros flagrantes e as banalidades demasiado infantis. Hitler nunca lhe perdoou, ao corrigir a sua obra, ter-se aproximado demasiado das suas fraquezas. Fê-lo assassinar por um «destacamento especial de morte » na noite de 30-VI-1934.
A propósito de Mein Kampf, recordo-me duma história divertida (…). Estávamos no congresso do partido em Nuremberga, em 1927. Eu era membro do partido há dois anos e meio e encarregado do relatório. Citei algumas frases do Mein Kampf, o que provocou uma certa sensação. À noite, quando eu jantava com alguns camaradas do partido, Feder, Kaufmann e outros, estes perguntaram-me se eu tinha verdadeiramente lera o livro que nenhum deles parecia conhecer. Confessei ter extraído algumas frases significativas sem de todo me ter ocupado do contexto. Foi a hilaridade geral de modo que se decidiu que o primeiro a chegar que tivesse lido o livro pagaria a conta dos demais. Gregor Strasser, interrogado à entrada, respondeu com um «não» sonoro, Goebbels sacudiu a cabeça acabrunhado, Goering soltou uma gargalhada, o conde Reventlow desculpou-se dizendo que tivera falta de tempo. Contudo nem um só estava ao corrente da sanção, de maneira que cada um teve de pagar a sua conta.”[2]
Recordemos os principais inspiradores, mestres e profetas do pensamento ou da visão-do-mundo nazis que os ideólogos do III Reich consideravam como seus precursores, começando por aqueles que Strasser mencionava como os mestres de Hitler no Mein Kampf – e aos quais acrescentaremos outros tantos de igual importância, destacando o caso de Nietzsche, o filósofo solitário cujo espírito fora tão céptico em relação aos seus compatriotas, o que não impediu o regime nazi de tão ultrajantemente o fazer seu, falsificando e deturpando-o.
 
 
Karl Lueger
 
 
Comecemos então com Karl Lueger (Viena, 1846 – 1910), advogado, católico anti-semita, influenciou fortemente o pensamento de Hitler, co-fundou um novo Partido Cristão Social, visando o interesse das classes médias austríacas, combatendo a social-democracia marxista e o nacionalismo eslavo, com uma tónica abertamente antijudaica, o que levaria o imperador Francisco José a recusar a sua nomeação para o cargo de presidente da câmara de Viena em 1875, embora acabasse por o aceitar, conservando-se nesse lugar até à sua morte. Imensamente popular, Lueger utilizou o sentimento anti-semita austríaco como um dos seus cimentos partidários, o que fascinaria o jovem Hitler. A famosa frase “Quem é judeu, sou eu que decido!” (Wer a Jude ist, bestimmt ich!) foi invenção sua, assim como garantia que os judeus exerciam terrorismo sobre os demais  através do domínio do capital e da imprensa, sendo necessário “libertar o povo cristão  do domínio das judiaria”. Também pensou que a “questão judaica” podia resolver-se metendo todos os judeus num barco e afundando-o no mar alto, assim como o anti-semitismo acabaria quando os judeus acabassem. Quando Lueger morreu, Hitler foi um dos muitos milhares de austríacos que participou no préstito fúnebre em sua homenagem.
 
 
Georg Ritter von Schönerer
 
 
Georg Ritter von Schönerer (1842 – 1921), de família abastada, ficara magoado com a expulsão do seu país da Confederação Germânica imposta pela Prússia em 1866, tornando-se o advogado dos lavradores e artesãos sindicalizados. Criticando a rapacidade do grande comércio, ao mesmo tempo que enaltecia a superioridade de tudo o que fosse germânico, foi um dos mais ferozes anti-semitas austríacos, ao mesmo tempo que criticava os católicos, os liberais e os socialistas, propondo um Anschluss da Áustria pela Alemanha, aquele que as tropas de Hitler realizariam em 12/13-III-1938. Os adeptos de Schönerer aclamavam-no com um “Heil!” que o III Reich instituiria, sob a forma de “Heil Hitler!”, uma saudação nazista que substituía o geral e familiar Guten Tag!(“Bom dia”). Esta nova fórmula foi legislada, tornando-se corrente e diária. As aulas nas escolas deviam começar por um Heil Hitler!, repetido 50 a 100 vezes por dia em diversas ocasiões da rotina escolar diária.
 
 
Paul Anton de Lagarde
 
 
 
 
Paul Anton de Lagarde (nome original: Paul Bötticher, Berlim, 2-XI-1827 – Göttingen, 22-XII-1891), orientalista alemão, pensador político e filólogo, precursor do Nazismo, fez carreira universitária em Göttingen, sucedendo a G. H. Ewald na filosofia oriental, trabalhando sobretudo em antigos textos aramaicos, gregos e arábicos, defendendo nos seus escritos um nacionalismo Völkisch (“popular”),[3] pedindo que se procedesse a uma depuração étnica da Alemanha, além de que, segundo ele, também o cristianismo devia ser purificado, tornando-se então uma forma positiva de cristandade, exigindo, acima de tudo o fim do poder espiritual e económico dos judeus, responsáveis pelo materialismo e comercialização reinantes, “fornecedores de decadência”, não devendo haver preconceitos “humanitários” em relação a eles, já que a judiaria seria feita de parasitas e pestes, havendo que os suprimir o mais depressa possível. A sua influência directa em Hitler e Rosenberg[4] foi evidente, assim como a sua severa disposição em relação a eliminar os judeus abria ao nazismo a via genocidária. No seu Diário, Rosenberg cita-o 6 vezes, afirmando ali, em 17-IX-1936, que Nietzsche, Wagner e Lagarde tinham sido “profetas.”[5]
 
 
Richard Wagner
 
 
Quanto a Richard Wagner (Leipzig, 22-V-1813), o compositor da Tetralogia foi um dos precursores mais importantes do ideário nazi, como o assinalaram tanto contemporâneos (Hermann Raushchning, Konrad Heiden) como nos estudiosos do nosso tempo (v.g., William Shirer, Joachim Fest, Ian Kershaw).[6] Nas suas intensas conversas com o primeiro, Hermann Rauschning,[7] Hitler declarava que não admitia precursores: “Só uma excepção: − Ricardo Wagner”, confessando que, desde a sua mocidade, fora muitas vezes a Bayreuth, considerando agora não só a música do famoso compositor mas “toda a doutrina wagneriana e a sua teoria de cultura germânica", desde o horror do mestre à alimentação carnívora, considerando o autor do Parsifal como, “acima de tudo, a maior figura de profeta que o povo alemã jamais possuíra”.[8]. Coincidindo com Wagner, o anti-semita que desprezava Mendelsohn e Meyerbeer[9] por serem judeus, ainda em diálogo com o mesmo Rauschning, Hitler explicava porque via no mundo das óperas de Wagner o mito da chefia, do herói germânico salvador e do Graal dos homens de sangue puro:
“Não é a religião da piedade que se glorifica, segundo o evangelho neo-cristão de Schopenhauer; é o culto do sangue nobre e precioso, da pura e irradiante jóia em torno da qual se agrupa a confraria dos heróis e dos sábios. Parsifal, o herói ignorante mas puro, deve escolher entre as voluptuosidades do jardim de Klingsor, que simboliza os desvarios duma civilização corrompida e os austeros deveres dos cavaleiros que velam o sangue puro, fonte mística de toda a vida. É o drama de todos nós. (…). A vida terna que nos concede o Graal é reservada só aos homens de sangue puro, só aos homens nobres. Conheço a fundo todo o pensamento de Wagner. A cada nova fase da minha vida, a ele regresso.”[10]
 
 

John Heartfield


 
 
 
 
Podemos levar mais longe esta identificação hitleriana com a mitologia anti-semita e germânica do seu adorado mestre Wagner se pensarmos que ele procurou, nos dias finais da sua catastrófica carreira como chefe absoluto da Alemanha nazi, fechado nesse Bunker de Berlim bombardeado pelas tropas russas e em vésperas de ser tomado pelos tanques do Exército Vermelho de Jukov, rivalizar com Wotan, desaparecendo no meio das chamas de uma gigantesca pira funerária de apocalipse, à maneira dum novo Ragnarök,[11] em que a suprema divindade nórdica era destruída, devorada pelo colossal lobo gigante Feirir, caindo a terra como em fogo no mar – o que dava um remate fatal ao seu prometido vaticínio do curso do III Reich milenar como uma opção trágica final entre Weltmacht oder Niedergang (“domínio mundial ou declínio”): esse Walhalla da saga da visão wagneriano-hitlerianas, a que Wotan lançava fogo no Crepúsculo dos Deuses,[12] seria de facto e em escala total a Alemanha destroçada nos derradeiros dias de Maio de 1945, extinguindo-se o Führer que conduzira esse destruição e todos os que seguiam atrás deste alucinado flautista de Hameln.[13] Em suma, o Wotan wagneriano-nazi tragicamente devorado pelo pelos monstros e pela chamas da catástrofe final do seu reino não deixava de o tornar semelhante ao Behemoth bíblico, símbolo do caos, espécie de hipopótamo diferente dessa outra figura mítica mencionada também no Pentateuco, o Leviatã no qual que Hobbes simbolizara o monstro da ordem e do poderio, não sendo por isso curioso que alemão judeu exilado tivesse dado, em 1942, na primeira edição da sua interpretação do fenómeno nazi, o título de Behemtoth. Pensamento e Acção no Nacional-Socialismo.[14]
O ensinamento capital recebido de Wagner por este “cabo da Boémia” (como se exprimia com desprezo acerca dele o general Hindenburg antes de o nomear para a chancelaria, depois de lhe ter proposto em vão um lugar de ministro dos correios), o antigo vagabundo e artista recusado duas vezes pela Academia de Belas Artes de Viena,  que falhara nas suas grandes esperanças milenaristas como dirigente político carismático e absoluto, destino que levou um dos seus melhores biógrafos, Joachim Fest, a considerar que, com o compositor de Leipzig venerado por Hitler como seu mestre absoluto, cuja música era “a conquista desonesta da multidão que começa”(Fest, op. cit., p.48): na senda do seu entranhado wagnerismo, igualmente ultranacionalista e anti-semita, delirantemente apocalíptico, Hitler aprendera a manipular desonestamente a multidão, primeiro com o Putsch de farsa em 1923, depois pelo “milagre” desta Machtergreifung (conquista do poder) de 30 de Janeiro de 1933.[15]
Passemos agora a um filósofo da segunda metade do século XIX que seria abusivamente considerado como precursor do nazismo e que a movimento da suástica faria um uso deturpado e inteiramente falseado: Nietzsche. O filósofo foi, de facto, utilizado, de modo espúrio e desonesto pela ideologia nazi como sendo um dos seus alegados profetas, sobretudo em dois vectores da sua filosofia, a ideia do super-homem (Übermensch ou sobre-homem) do Assim falava Zaratustra, herói no qual Hitler se julgara profetizado, e, por outro, no seu desprezo pelo cristianismo, condenado este como religião de raízes judaicas, o que facilitaria a sua injustificada assimilação como pensador anti-semita, interpretação que não tinha base alguma, dada a simpatia pessoal e genérica que o filósofo tinha pelos judeus e ainda pela seu asco pelos sentimentos anti-semitas da sua irmã Elizabeth e do seu cunhado Förster. Lembrando que a irmã do filósofo oferecera a Hitler uma bengala que pertencera ao irmão, Daniel Halévy, um dos biógrafos franceses de Nietzsche, indignara-se com esse gesto incompreensível: “O cajado do peregrino solitário nas mãos do homem das multidões, que erro! Sabíamos, já de longa data, que Lizabeth era especialista em cometer gaffes. Nietzsche teria rido amargamente dessa aristocracia de setenta milhões de seres que o nazismo pretendeu criar.”[16]
Não deixa de ser surpreendente que, nas suas conversas com Rauschning, Hitler lhe dissesse: “Quem considera o nacional-socialismo senão como movimento político, bem pouco o entende. O nacional-socialismo e mais do que uma religião – é a vontade de criar o super-homem”, observando-lhe o céptico autor do Hitler disse-me que lhe parecia “impossível realizar a cultura biológica do super-homem”, pois lhe lembrava uma ideia de criadores de gado, ao que o Führer retorquiu que “toda a política que não tenha uma base biológica ou objectivos biológicos é uma política de cegos, uma política realmente cega”, acrescentando triunfalmente: “O homem novo vive a nosso lado. Está ali! (…). Vou-lhe dizer um segredo. Vi o homem novo. É intrépido e cruel. Senti medo diante dele” – e o então presidente do senado de Dantzig e futuro dissidente do nazismo acrescenta que Hitler, pronunciando “estas palavras singulares (…), vibrava e tremia de êxtase.”[17] Esta versão tão absurda e deturpada do nietzschismo e do seu Super-Homem mostra-nos bem como foi espúrio e falsificador da obra de Nietzsche a leitura feita pelos homens que brandiam a suástica como bandeira, incapazes que eram de compreender o grande poema lírico ditirâmbico sobre o profeta que, aos trinta anos, desceu da montanha para anunciar aos homens da cidade que lhes vinha ensinar “o sobre-humano”, já que “o homem é algo que deve ser superado”, porquanto “Deus morreu” e o homem não passava duma “corda amarrada entre o animal e o super-homem – uma corda por cima d de um abismo.(…). O que é grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim”.[18]
Sumarizemos o essencial desta inaceitável assimilação nazi do pensamento de Nietzsche.[19] Em muitas das suas obras o filósofo do Zaratustra [20] condena repetidamente os alemães e faz o elogio dos judeus, como em Para além do Bem e do Mal (Jenseits von Gut und Böse, 1886): desde a frase que figura em epígrafe deste estudo, garantindo que “o alemão conhece bem os caminhos furtivos para o caos”(Schleichwege zum Chaos)[21] até à pergunta “o que deve a Europa aos judeus?”, Nietzsche levantava invencíveis críticas aos seus compatriotas, da mesmo modo que via no povo da Aliança um força que admirava, respondendo à referida questão com esta passagem “Muitas coisas boas, boas e más, e sobretudo uma, que é ao mesmo tempo das melhores e das piores: o grande estilo na moral, a terrível majestade de infinitas reivindicações. De infinitos significados, todo o romantismo e todo o carácter sublime das problemáticas morais”, respondendo: “Nós, artistas entre os espectadores e filósofos, temos por isso, para com os judeus – gratidão”, acrescentando logo a seguir que eles eram “a raça mais forte, mais rija, mais pura de quantos vivem actualmente na Europa”, de tal modo que, “um pensador em cuja consciência pés a responsabilidade pelo futuro, contará em todos os projectos que fizer sobre este futuro, com os judeus e com os russos, como sendo os dois factores, por enquanto mais seguros e mais prováveis, no grande jogo do conflito de forças”, garantindo que eles “não trabalham para nesse sentido. Querendo apenas ser integrados na Europa e por ela absorvidos, (estando) sequiosos por se fixarem seja onde for e, uma vez admitidos, respeitados, acabarem com a vida nómada, com o «Judeu Errante» − e devia-se atender  a esta aspiração e ir ao seu encontro”[22]. Filo-semita, tendo entre os seus amigos mais íntimos diversos judeus, Nietzsche detestava os anti-semitas, a começar pela sua irmã e o marido desta, Bernhard Förtser, acrescentando, no mesmo livro citado, que “talvez fosse útil e conveniente expulsar do país os vociferadores anti-semitas”.[23]
Além de profundamente crítico da germanidade e do “alienamento doentio que a loucura do nacionalismo provocou e ainda provoca entre os povos da Europa”(die Entfremdung, welche der Nationalitäts-Wahnsinn zwischen die die Völker Europas gelegt und noch legt), em ruptura com Wagner por este se revelar um feroz, anti-semita,  além de progressivamente cristão com o seu Parsifal,  contra “a guincharia sórdida” deste (dies schwüle Kreischen), ao mesmo tempo que o compositor apregoava o “caminho para Roma”, [24] além de autor, desde 1850, de uma furiosa obra anti-semita do mesmo contra a música judaica, O Judaísmo na Música (1850), enquanto Nietzsche se distanciava cada vez mais dos seus compatriotas, a ponto de garantir em 1883, e mais tarde, ao crítico e filósofo dinamarquês Georg Brandes, em carta de 10-IV-1888, uma ascendência nobre polaca para o seu apelido, os Nietzky (o que nunca foi confirmado pelos genealogistas),[25] enaltecendo a França e o espírito gaulês ou apreciava sobremaneira o “espírito de bom humor, exaltado e amoroso” de Mozart, lembrando que este, “por felicidade, não era alemão”.[26] Um dos primeiros politólogos do nazismo, Franz Neumann, acima referido, lembrava em 1942 que Nietzsche atacara o nacionalismo e o imperialismo alemão com o mesmo desprezo com que repudiava a democracia, o liberalismo e o cristianismo, sublinhando ainda que, embora a sua filosofia e a ideologia nacional-socialista contivessem muitas semelhanças, “há entre elas um abismo intransponível, já que o individualismo daquele transcende o nível de toda a ordem autoritária.”[27] Sublinhe-se que a assimilação do pensamento de Nietzsche pelo III Reich teve ainda a facilitá-lo a acção da figura da abusiva irmã do filósofo, a já mencionada Elizabeth Nietzsche-Förtser. (Röcken, Saxónia,1846 – Weimar, 8-XI-1935).[28]
 
 
Elisabeth Nietzsche
 
 
 
 
Elizabeth Nietzsche casou com um antigo professor liceal, Bernard Förster, rabioso anti-semita, acabando ambos por emigrarem ambos, em 1887, para o Paraguai, onde fundaram uma colónia germânica de fazendeiros, a Nueva Gernania, experiência  de emigração que acabaria por se revelar desastrosa, acabando o cunhado do filósofo por se suicidar em 3-VI-1889 e regressando a viúva à Alemanha, quatro anos depois. Em cartas à irmã, de 1887, o filósofo repetiria a sua aversão pelo anti-semitismo do seu cunhado, assim como pela sua colonização sul-americana da Nueva Germania: “Dizes que a Neo-Germania nada tem a ver com o anti-semitismo, mas sei de modo certo que o projecto de colonização é de carácter essencialmente anti-semita por essa famosa «Correspondência» que me enviam em segredo e apenas aos membros mais seguros do partido. (Esperemos que o senhor meu cunhado não ta dará a ler! Ela torna-se cada vez mais desagradável). Ah, meu bom lama, como é que tu te pudeste lançar numa semelhante aventura?” (carta enviada de Chur, 21-V-1887). “O teu casamento com um chefe anti-semita exprime, para toda a minha maneira de ser, um afastamento que me enche sempre de rancor e de melancolia. Bem me dizes que casaste o colonizador e não com o anti-semita (…), mas aos olhos do mundo Förster ficará sempre até à sua morte, o chefe dos anti-semitas.”(carta de  Nice, 26-XII-1887).[29]
Após o colapso mental do irmão em Turim,[30] Elizabeth velaria pelo filósofo, seguindo-o no hospício onde seria internado, ficando, sobretudo, com o encargo de conservar o seu espólio, que se transformaria, algum tempo volvido, no Arquivo Nietzsche, em Weimar,[31] local de peregrinação de Hitler e outros dirigentes do III Reich, como Alfred Rosenberg  e o Dr. Wilhelm Frick, o jurista e íntimo do Führer nos anos de tomada do poder, nomeado ministro do Interior na Turíngia (1930) e, depois, ministro do Interior do Reich (1933), o autor das leis antijudaicas de 1935, sendo, por fim julgado em Nuremberga e condenado à forca, sendo ali executado.[32] Quanto à irmã de Nietzsche, coube-lhe a honra de receber as visitas do Führer no Arquivo Nietzsche em Weimar, sendo Hitler fotografado ali, olhando com ar grave e concentrado um busto de pedra do filósofo do Ecce Homo, autor que ele nunca tenha lido. Quanto a Frau Nietzche-Förtser, faleceu em 8-XI-1935 e no seu funeral daquela que não hesitara em fabricar uma obra que o irmão nunca escrevera, agora pastichado pela irmã e imbuído de espírito nazificante, o Wille zur Mchat (Vontade de Poderio), estariam presentes os barões do III Reich, a começar com Hiutler, estando ainda nessa cerimónia fúnebre Alfred Rosenberg, Baldur von Schirach,[33] Wilhelm Frick, Fritz Stauckel, além de uma guarda de honra da SA e da SS. Goebbels, estando adoentado com uma constipação, enviou os seus pêsames e uma coroa funerária. Durante esse funeral nacional, a face do Führer exprimia um profundo pesar, não tendo dito uma só palavra, cabendo a Fritz Sauckel fazer a oração fúnebre.[34] Futuro general das SS e ministro do Trabalho, seria acusado pelo tribunal internacional de Nuremberga como dirigente do trabalho escravo do III Reich, além responsável pelo extermínio de operários judeus na Polónia, sendo enforcado em 1946.[35]
 
 
John Heartfield
 
 
A mais dramática e mórbida coincidência é que, nesse funeral da irmã de Nietzsche, quatro dos seus participantes mais altos na esfera dos barões do III Reich seriam todos enforcados, por decisão do tribunal internacional de Nuremberga, nessa mesma data de 16-X-1946: Alfred Rosenberg, o “filósofo” nazi da raça, Hans Frank, o carrasco da Polónia conquistada pela Wehmacht depois de celebrado o infame tratado russo-alemão de 1939,[36] Wilhelm Frick, o jurista que confeccionara as leis racistas anti-judaicas de Nuremberga, em 1935, e Fritz Sauckel, o ministro dos escravos na indústria germânica durante a guerra, o distinto orador mencionado, que ali fazia a oração fúnebre em honra da abusiva irmã do filósofo de Para além do Bem e do Mal. Podemos assim dizer, sem forçar os factos, que a sombra ominosa e perturbadora de Elizabeth Nietzsche-Förster, pairara sobre esse julgamento internacional que decorrera entre 1945 e 1946 na mesma cidade que o nazismo fizera um dos seus santuários e, ao mesmo tempo, sinónimo de leis racistas e, por fim, da Nemesis internacional encarregada de julgar todos esses assassinos, psicopatas, além de falsificadores do pensamento do autor de Assim falava Zaratustra.[37]
 
                                                                                                                        
João Medina
 
 
 
NB: Este texto é um excerto dum ensaio nosso intitulado Hitler como ideólogo e político do Nazismo (inédito). A continuação deste capítulo será oportunamente publicada no Malomil.
 






[1] Julius Streicher (Fleinhausen, Alta Baviera, 12-II-1885 – Nuremberga, 16-X-1946), nazi fanático, homem brutal e violento nas suas actuações, soldado condecorado na grande guerra, embora tido como indisciplinado, foi uma das figuras mais delirantes e violentas do nazismo no poder, sendo o seu jornal violentamente anti-semita Der Stürmer (O Assaltante), fundado em 1923, era um jornal ilustrado com imagens gráficas e caricaturas obscenas, mostrando raparigas violadas por judeus e faces judaicas repulsivas, sendo uma das publicações políticas mais pornográficas do ódio anti-semita. Ingressara no NSDAP em 1922, participara no putsch de 1923, sendo nomeado Gauleiter da Francónia de 1925 a 1940, deputado no Reichstag em 1933, impulsionador das leis raciais de Nuremberga (1935), dirigidas contra os judeus destinadas a exclui-los da cidadania, sendo um dos promotores dos progroms contra os judeus em 10-XI-1938, com a destruição das suas sinagogas tanto na Alemanha como na Áustria(“Noite de Cristal”). Caindo em desgraça em 1940, sendo destituído de todos os seus cargos e ficando com residência fixa desde então. Julgado em Nuremberga por quatro crimes, foi condenado à forca, nomeadamente por fazer “propaganda da morte”. Quando subiu para o patíbulo, gritou “Purim!”(festa hebraica celebrando a derrota de Haman, perseguidor dos judeus nos tempos bíblicos) e as suas derradeiras palavras foram “Heil Hitler!”  


[2] Otto Strasser (Mülheim an der Ruhr,1897- Munique, 1974), Hitler et Moi, Paris, Éditions Bernard Grasset, 1940, pp.67-69. Strasser, representante da ala socialista do Partido Nazi, juntamente com o seu irmão Gregor (nasc. em 1892 e eliminado pela SS na Noite das Facas Longas, em 1934), exilar-se-ia na Checoslováquia e, mais tarde, no Canadá, só regressando à Alemanha em 1955.


[3] Völkisch é uma expressão alemã intraduzível, sendo insuficiente vertê-la como “popular”, embora derive de Volk (povo), uma vez que designa uma disposição de vários grupos de pensamento e política cuja referência primária é o povo germânico considerado na sua especificidade cultural. O termo torna-se corrente no séc. XIX, significando uma corrente cultural que obra em prol do despertar da consciência nacional entre os alemães nas províncias e nas grandes aglomerações urbanas. O termo völkisch teve um regresso em força nos anos 20 durante a República de Weimar: o jornal muniquense de Hitler, o Völkischer Beobachtar (o Informador Popular) é um exemplo dessa adesão do nazismo ao conceito, já que os hitlerianos consideravam que raça e povo coincidiam no sentido duma definição étnica da germanidade, unindo os alemães da Prússia, do resto da Alemanha e de todos os demais territórios habitados por alemães, como na Boémia ou noutras regiões.


[4] Alfred Rosenberg (Revel, actual Talinin, Estónia, 12-I-1893 – Nuremberga, 18-X-1946), filho dum comerciante alemão da Lituânia e duma mãe da Estónia, fez estudos de arquitectura em Moscovo, assistindo ali à revolução bolchevista de 1917, tornando-se um inimigo do comunismo. Obtém um diploma de engenheiro em Riga, emigra para Paris e dali para Munique (1920), recebendo a cidadania germânica, filia-se na sociedade germanista e ocultista Thule, conhece Hitler através de Friedrich Eckart, edita obras anti-semitas, como As Marcas dos Judeus na História do Mundo (1919), reedita Os Protocolos dos Sábios de Sião, participa no putsch da cervejaria muniquense de 1923, sendo nomeado em 1923 editor do Völkischer Beobachtar, o jornal do NSDAP e, mais tare, responsável da editorial do partido nazi (1926) e da revista mensal A Batalha mundial. Em 1930 publicou o tratado de filosofia nazi O Mito do séc.XX,  que, com o Mein Kampf de Hitler, se tornam as duas bíblias ideológicas do nazismo, tendo a obra de Rosenberg edições que em 1936 rondam os 500.00 exemplares e em 1943 780.000, chegando ao milhão em 1944. Com o advento do III Reich é feito director da secção dos assuntos externos do partido. Durante a guerra, participa na pilhagem das obras de arte nos países ocupados e em 1941 é nomeado ministro do Reich encarregado dos territórios do leste, dirigindo a deportação em massa de judeus e de ucranianos, dando cobertura aos crimes alemães na URSS. Sai condenado pelo tribunal militar internacional de Nuremberga e enforcado em 18-X-1946. Deixou um volume de memórias, recentemente editadas, nomeadamente em francês: Journal. 1934-1944, apresent. de Jurgen Matthäus e Frank Bajohr, Paris, Flammarion, 2015.


[5]Alfred Rosenberg, Journal, p.210.


[6] Ver: Konrad Heiden (1901-1966), The Fuehrer, Londres, Robinson, 1999, pp.181-2, 184-5 e  188-9. William Shirer (Chicago, 1904 – Boston, 1993).  Joachim Fest (1926-2006), Hitler, vol.I, Jeunesse et conquête du pouvoir,  Paris, Gallimard, 1973,pp.46-50.  Ian Kershaw (nasc. em 29-IV-1943), Hitler.1889-1936. Hubris, Londres, Allen Lane. The Penguin Press, pp.21, 42-3, 188-9 (visita de H. à casa de W. e relações com Winifred Wagner, mulher de Siegfried Wagner, filho do músico) e  21-2.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  


[7] Hermann Rauschning (Thorn, Prússia Ocidental, 7-VIII-1887 – Oregon. E.U.A., 8-II-1982), filho de um abastado proprietário rural e lavrador, depois de frequentar a Escola de Cadetes de Berlim, serviu como tenente na grande guerra, sendo ferido em combate, deslocando-se após o fim da guerra para a região de Dantzig (hoje Gdansk, na Polónia), cidade livre sob o controlo da SDN (1919), estudou música e história, aderiu ao Partido nazi em 1932, sendo designado para o parlamento de Dantzig em 1932, no qual os nazis ganharam uma maioria absoluta, nomeando-o então Hitler como presidente do senado dessa região livre. Em 1935, desiludido com o nazismo, partiu primeiro para a Polónia (1936), depois para a Suíça (1937), dali para a França (1938) e, por fim, para os E.U.A, onde morreria em Portland (Oregon), em 8-II-1982. Publicou uma série de livros denunciando o nazismo. Nacionalista tradicional, H.R. confessou ter-se enganado ao aderir ao nazismo, que acabaria por denunciar em obras de interesse e que tiveram enorme repercussão na época, nomeadamente Gespräche mit Hitler, em 1939, muito traduzido (em francês, Hitler m’a dit  - em português, Hitler disse-me. Confidências do Führer sobre os seus planos de conquista do mundo,  trad. portug.  de  João de Barros, pref. de Marcel Rey, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1940, que citaremos neste ensaio, assim como A Revolução do Nihilismo (1939), A Revolução conservadora (1941) e Tempo de Delírio (1945). Pierre Ayçoberry destaca o contributo de H.Rauschning como intérprete do fenómeno nazi no seu livro La Question nazie. Les Interprétations du National-Socialisme, 1922.1975 (Paris, Éditions du Seuil, 1979, pp.61-63). Do mesmo modo, no seu recente estudo de interpretações diversas do fenómeno nazi por historiadores e politólogos mais diferentes como Arendt, F. Neumann, E.  Nolte, Broszat, K.D.Bracher, etc., o britânico Ian Kershaw (nasc. em 1943) lembra que, desde o final dos anos 30, Rauschning afirmava que o hitlerismo só podia engendrar a “revolução do nihilismo” (cf. I. Kershaw, Quest-ce que Nazisme? Problèmes et prespectives d’interprétation, Paris, Gallimard, col. Folio Histoire, 1992, p.265. De facto, a interpretação apocalíptica do nazismo feita por este antigo político conservador que chegara a servir  o III Reich em Dantzig, desiludindo-se e escolhendo o exílio para denunciar a pavorosa ilusão em que por  algum tempo acreditara, como sendo na verdade uma revolução em nome do nihilismo (veja-se H.Rauscnhing, The Revolution of Nihilism, Nova Iorque, Garden City Publishing Co.,1942), continua ser valiosa. No seu diário, Goebbels refere H.R. nestes termos: “O propagandista mais infame (…) é Rauschning. O seu livro Gespräche mit Hitler foi escrito com extraordinária habilidade e constitui um perigo enorme para nós. Estou a fazer que trabalhem contra ele” (Joseph Goebbels, Journal. 1939.1942, Paris, Tallandier, 2009, p.92, datado de 13-II-1940).


[8] Rauschning, op. cit., pp.241-2.


[9] Giacomo Meyerbeer (Berlim, 1791 – Paris, 1864), que na verdade se chamava Jacob Liebmann Meer, nascido no seio duma família de banqueiros judeus abastados, compôs óperas, sobretudo influenciado por Rossini (1792-1868), escrevendo óperas em italiano, como Gli Amori di Teodoldo (1826), assim como comporia, numa altura em que já vivia em França, óperas em francês, como Robert le Diable (1831), com libreto de E. Scribe, e ainda L’Africaine (póst., Paris, 1865), com libreto do mesmo, baseada esta num episódio da viagem de Vasco da Gama em direcção à Índia. Meyerbeer teve relações de amizade com Wagner, que se tornaria mais tarde seu feroz inimigo, vituperando-o por ser judeu.


[10] Rauschning, op. cit., pp.242-3.


[11] Mircea Eliade (1907-1986), vivendo em Portugal, onde era adido de imprensa na embaixada rom3na da ditadura de Antonescu, anotaria no seu diário que a queda de Hitler  no ataque e conquista de Berlim era um Ragnarök como o concebiam as sagas nórdicas, que a mitologia germânica adaptara e assimilara: “Está a haver ferozes combates em Berlim. Hitler conseguiu inclusive reactualizar o destino dos Nibelungos e, no plano mitológico, realizar o Ragnarök, a catástrofe final. Já em 1934 eu me perguntava como podia um movimento político revolucionário, assimilar a mitologia pessimista que termina de maneira necessária no Apocalipse do Ragnarök. A mitologia germânica, que Hitler tratou de ressuscitar, supõe a luta final entre os «heróis» e os «monstros», luta que conclui com a derrota definitiva dos heróis. Como pode alguém pedir a uma nação que continue a assegurar que, à medida que esta compreenda a sua missão, desembocará por fim num desastre?” (Diarío portugués, trad. esp. , Barcelona, Editorial Kairós, 2001, p.233, datada de 23-IV. 1945).


[12] O Crepúsculo dos Deuses (Götterdämmerung, 1876), libreto e ópera de Richard Wagner, representada em Bayreuth em 17-VIII.76, derradeira parte da tetralogia O Anel dos Nibelungos (I853-76), remata as labaredas da pira funerária de Siegfried, cujas chamas sobem e se comunicam a todo o Walhalla, que se desmoronará sepultando todos os deuses. O pessimismo deste final exprime o desejo de autodestruição da vontade de viver e o desejo da morte como um porto de voluptuosidade, sendo o fim de todas as coisas sentido dolorosamente como a destruição duma felicidade e duma beleza que já não se podem conservar. Esta destruição final e a morte de todos os deuses antigos, assim como a restituição do ouro do Reno através do desencadear das águas e do fogo, são o epílogo desta tetralogia de Wagner. Veja-se Ernest Newman, História das Grandes Óperas e dois seus Compositores, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo, Editora Globo, 5ª ed., 1954,  maxime  p.132 e ss (Nibelungos) e 180-3 (o fogo da destruição final).


[13] Sobre a devastadora e total derrocada militar da Alemanha, veja-se a obra de Ian Kershaw, The End. Hitler´s Germany, 1944-1945, Londres, Penguin Books, 2012, maxime pp.386-400 (“Anatomia da auto-destruição”). Kershaw não menciona Wagner nesta obra.


[14] Cf. Franz Neumann (Katovice, Polónia, 1900 – 2-IX-1954, Suiça), Behemoth. Pensamiento y Acción en el Nacional-Socialismo, México e Madrid, Fondo de Cultura Económica, 1983. A primeira tradução, a  inglesa, desta obra publicou-se no Canadá, em 1942. Neumann estudou na Alemanha, sendo desde a juventude membro do SPD alemão e, depois, advogado dos sindicatos, exilando-se, primeiro na Inglaterra, onde trabalhou com o professor universitário Harold Lasky, que foi secretário do Partido Trabalhista, fixando-se depois nos EUA (1943), onde foi professor de Ciência Política na Columbia University e, mais tarde, na Universidade Livre de Berlim, tendo ainda colaborado com os OSS americanos (Office of Stategic Services), tendo sido conselheiro do tribunal internacional de Nuremberga. Faleceu num acidente de automóvel na Suiça. Sobre o seu importante contributo para a compreensão historiográfica do nazismo do seu livro Behemoth (Toronto, 1942), mostrando que a ditadura hitleriana não era monolítica, mas antes composta de quatro grupos distintos –  a burocracia, a elite do partido, a indústria do Estado e o exército –, veja-se P. Ayçoberry, La Question nazie, pp.132-39, que define o livro Behemoth como “o primeiro em data dos clássicos”(p.138). 


[15] Veja-se Georges Gorely, Hitler prend le Pouvoir, Bruxelas, Éditions Complexe, 1985. Quanto ao termo utilizado para definir a tomada do poder em 30-I-1933, sublinhe-se que a expressão “milagre” fez parte das expressões mais usadas pelos sequazes de Hitler para transformarem aquele mal preparada entrada do Führer num gabinete de elementos sem coerência política ou partidária. Como o escrevia Goebbels, no dia seguinte, a 31-I-33, no seu diário: “Já está! Estamos na Willhemstrasse. Hitler é chanceler do Reich, É como um conto de fadas.” Joseph Goebbels, Journal. 1933-1939, ed. cit., p.97 (a rua mencionada era a da chancelaria da Alemanha, perto da porta de Brandenburgo, no coração da capital, onde, na noite de 30-I-.1933, os seguidores de Hitler fizeram  uma apoteótica marche aux flambeaux para celebrar a chegada ao poder do seu chefe).


[16] Daniel Halévy (Paris, 12-XII-1872 – idem, 4-II-1962), Nietzsche, sem indicação do tradutor, Porto, Editorial Inova Lda, i1ust., s.d., p.404. Esta obra, Vie de Friedrich Nietzsche, fora publicada em 1909, sendo reeditada em 1944. D. Halévy, de família protestante, amigo de Georges Sorel (1847-1922), sindicalista revolucionário, discípulo de Proudhon, cuja obra Refléxions sur la Violence (1908) foi editada por Halévy, agradando tanto a Lenine como a Mussolini, orientando-se D.H. progressivamente para o antiparlamentarismo e a extrema-direita em 1934, embora sem aderir ao fascismo ou ao nazismo, apoiara o regime de Pétain, publicando ainda Essai sur l’Accélération de l’Histoire, Degas parle, Michelet (1928), etc.


[17] H. Rauschning, opt. cit., pp. 258-9.


[18] F. Nietzsche, Assim falava Zaratustra. Um livro para todos e para ninguém, Lisboa, Relógio d’Água, 1998, trad. de  Paulo Osório de Castro, pp.12-13 e  14.


[19] Veja-se, num sentido englobante do que foi a visão-do-mundo nazi, o estudo essencial de George L. Mosse, Les Racines intellectuelles du Troisième Reich, Paris, Seuil, col. Points, 2008. Sobre Nietzsche abusivamente recuperado pelo o nazismo, recordemos alguns títulos essenciais: -Nietzche, Godfather of Fascism?, colecção de diversos ensaios, organiz. por Jacob Colomb e Robert Wistrich,  Princeton e  Oxford, Princeton University Press, 2002 (maxime  os estudos de  “How to de-nazify Nietzsche’s philosophic anthropology”, de Jacob Colomb, pp.19-46;, “Nietzsche and «Hitler»”, de Alexander Nehamas, pp.90-106; “Nietzsche and the jews”, de Menahem Brinker, pp.107-125; Nietzsche contra Wagner and the Jews”, de Yirmiyahu Yovel, pp.126-143; “Between the cross and the swastika” de Robert S. Wistrich, pp.144-169; “A godfather too: nazism as a nietzschean «experiment»”, pp.291-290 e  ainda “ “The Elizabeth legend: the cleansing of Nietzsche and the sullying of his sister”, de Robert C. Olub, pp.215-234. – Karl Schlechta, Le Cas Nietzsche, Paris, Gallimard, 1960, maxime pp.105-112 (a falsificação  do espólio de N. pela sua irmã Elizabeth Förster-Nietzsche, anti-semita e directora do Arquivo Nietzsche em Weimar, assim como a apropriação de N. por Hitler). – H.Rauschning, Hitler disse-me, pp.258-9). –Arno Münster, Nietzsche et le Nazisme, Paris, Éditions Kimé, 1995, maxime pp.13-14 (v.g., Rosenberg e N., Heidegger e N., pp.99-.108).− Keith Ansell-Person, Nietzsche as political Thinker, Nova Iorque, Cambridge University Press,1994, maxime pp.31-34 (o papel de Elizabeth, a irmã de N., na nazificação do seu pensamento por autores nazis como A. Rosenberg, Alfred Baemler e Heinrich Härtle, além da publicação de pequenas antologias do seu pensamento contendo as principais afirmações “nazis” do autor da Gaia Ciência).


[20] Sobre esta obra de F.N., ver: − Pierre Héber Suffrin, Le Zarathoustra de Nietzsche  (com uma ytrad. do prólogo do A. f .Z., pp.8-22), Paris, P.U.F., 1999. – Pierre Montebello, Nietzsche. La Volonté de Puissance, Paris, P.U.F., 2001 (começando por lembrar que o livro conhecido como Vontade de Poderio, edit. pela irmã de N.,“não é um livro de Nietzsche”, mas “uma compilação arbitrária de fragmentos póstumos de Nietzsche, publicada por Heinrich Köselitz (Peter Gast) e Elizabeth Förster-Nietzsche”, “uma dupla invenção”(p.5). − Hans-Georg Gadamer (1900-2002), Nietzsche l’Antipode. Le Drame de Zarathoustra ( seguido de Nietzsche et Nous, diálogo entre Theodor Adorno e Mark Horkheimer e H.-G. Gadamer, pp.51-68).), Paris, Editions Allia, 2000.–José Maria Valverde, Nietzsche, de Filólogo a Anticristo, Barcelona, Planeta, 1993 (maxime pp.124-145). – João Medina, De Homero a Kafka, passando por Cervantes e Nietzsche: grandes mitos do imaginário cultural europeu, separata da revista Clio, Lisboa, Univ de Lisboa, nº 11, 2004, pp.13-p2, ilustr. (maxime: pp.60-68, “Zaratustra ou a morte de Deus”; dois retratos de F.N., p.90).


[21] Nietzsche, Jenseits von Gut und Böse, no vol.2 das suas Werke in Zwei Bände,  Berlim, Darmstad e Viena,  C.A.Koch Verlag, s.d., p.132 (na trad. portug. cit,, p.169). Karl Schlechta é o responsável por esta edição.


[22] Nietzsche, Para além do Bem e do Mal, trad. do alemão de Hermann Pflüger, Lisboa, Guimarães Editores, 1958. pp.169, 175-8); itálicos no original.


[23] Nietzsche, Para além do Bem…, p.178. N. acreditava que os povos europeus se queriam unir, “misteriosa síntese” que ele elogiava (p.185). Sobre a relação de N. como ideal europeu e a questão judaica, veja-se David Ferrell Krell e Donald L. Bates, The Good European. Nietzsche’s Work Sites in Word and Image, Chicago e Londres, The University of Chicago Press, 1997, obra ilustrada com excelentes fotografias dos locais em que decorreu a vida do pensador.


[24] Nietzsche, Para além…, pp.184 e 187 ( ver o mesmo texto em alemão, no já cit. Jenseits von Gut und Bôse, in Friedrich Nietzsche, Werke in Zwei Bände, C,A, Koch´s Verlag, vol.2, s.d., pp.143 e 145


[25] Veja-se o vol. I da biografia de N. por Curt Paul Janz, Friedrich Nietzsche, I. Infancia y Juventud,  Madride, Alianza Editorial, 1987, pp.26-32 (baseado no livro escrito por um primo de N.,  Max Oehler, Nietzsche Abnamen, 1938). Tanto pelo lado paterno como materno, os antepassados de N. da região da Suábia e da Turíngia, território centro-alemão, tinham, sido pastores, como sucedeu com o seu pai Ludwig e o seu avô, do mesmo modo que, como do lado da sua mãe, os Herold, que tinham sido pastores durante cinco gerações. Quanto ao mencionado escritor, político e professor universitário de literatura dinamarquês Georg Brandes (nome completo: Georg Morris Cohen Brandes, Copenhaga, 4-II-1842 –idem, 19-II-1927), membro de uma família de judeus não praticantes, da classe média, tendo vivido desde 1877 em Berlim, voltando em 1883 para a Dinamarca, onde fundou, de colaboração com o seu irmão, do jornal Politiken (1884), e do Partido Radical Liberal (Det Radikale Nemstre), autor de vários volumes  de ensaios e de história da literatura, tradutor de Ibsen e propagandista da literatura nórdica, pronunciou uma série de conferências, com largo sucesso público, sobre a filosofia de Nietzsche. Trocaram ambos várias cartas, tendo G.B. tentado persuadir o alemão a ler Kierkegaard, conselho que não parece ter sido seguido. Voltaremos a referi-lo adiante.


[26] Nietzsche, Ecce Homo et Nietzsche contre Wagner, Paris, GF-Flammarion, 1996, p.188, assim como rompia com o wagnerismo desde 1877 e se considerava nos antípodas do compositor de Parsifal (v.g., pp,186-192). Vej-se Nietszche, Le Cas Wagner suivi de Nietzsche contre Wagner, textos coord. por Giorgio Colli e Mazzino Montinari, Paris, Gallimard, 1980.


[27] F. Neumann, Behemoth, p.155.


[28] Ver Ben Macintyre, Forgotten Fatherland. The Seartch for Elizabeth Nietzsche, Londres, Macmillan. 1992, ilustr.


[29] Cartas de Nietzsche à sua irmã Elizabeth, Lettres Choisies, trad de A.Vialatte, Paris, Gallimard, 1937, respectiv. pp.251 e 267-8. Numa outra carta, enviada a Malwida von Meysenbug, de Chur, na Suíça), N. mostra a sua antipatia pelos seus compatriotas nacionalistas: “ sou um Alemão que não se sente parente na Europa presente a não ser com os Franceses e os Russos mais cultos e de modo nenhum com a elite dos meus compatriotas que julga sempre tudo a partir do princípio do «A Alemanha, a Alemanha acima de tudo!»”(p.248). As críticas aos Alemães são frequentes nesta correspondência: vide v.g., pp.191, p.195 (ao amigo Peter Gast, enviando-lhe o A. f. Zaratustra, dizendo “não sou feito para este país”, a Alemanha, p.195), p.215 (carta de Nice, a Malwida: “Aconteceu-me nestes dias folhear Schopenhauer – ah!, esta estupidez alemã, como estou farto dela! Ela corrompe todas as coisas grandes!”); à sua mãe, enviada de Veneza, em 18-X-87, diz que falta aos Alemães “antes de mais, a cultura, a seriedade que seria precisa para abordar os problemas que considero mais graves”, p.257, acrescentando que “continuo sempre a não ter o menor desejo de me aproximar do Sr. meu cunhado. As opiniões dele e as minhas são opiniões diferentes, e eu não o lamento”, p.258), voltando a referir-se com desprezo a Förster, em carta à irmã, de Nice, em 26-XII-87, pp.267-8: “O teu casamento com um chefe anti-semita exprime para toda a minha maneira de ser um afastamento que me enche sempre de rancor e de melancolia. Tu dizes bem que que casaste com um colonizador e não com um anti-semita, mas aos olhos do mundo Förster ficará até à sua morte o chefe dos anti-semitas. (…). Pois, bem o vês, meu bom lama, é para mim uma questão de honra observar em relação ao anti-semitismo uma atitude absolutamente nítida e sem equívoco, a saber: a de oposição, como o faço nos meus escritos”, referindo ter sido atacado por jornais anti-semitas e que “a minha repulsa por esse partido (que bem gostaria muito de se prevalecer do meu nome!) é tão pronunciada quanto possível, mas o me parentesco com Förster e do contra-ataque do anti-semitismo de Schmneitzner, meu antigo editor, não cessam de fazer crer aos adeptos desse desagradável partido que eu seja um dos deles. Quanto isso me prejudica e me tem prejudicado não te posso dar uma ideia”, deplorando ainda que a mesma imprensa anti-judia teria utilizado o nome de Zaratustra, o que o deixara “várias vezes doente”. Em outra carta a Malwida, de Sils-Maria, em 20-VII-88,  deplora que “ na sua cara pátria me tratem como um indivíduo digno de viver numa cabana”, como “se exprime o cretinismo de Bayreuth”, embora se console referindo que na Dinamarca, o filósofo Georg Brandes tenha feito conferências sobre ele, com notável sucesso público. Numa das suas cartas a G. Brandes, N. acusava os Alemães de terem “sobre a consciência o crime de terem esvaziado de sentido a última grande época da  história, a Renascença,  no momento em que os valores cristãos, os valores da decadência, sucumbiam, no momento mesmo em que os instintos contrários, os da vida, os suplantavam até no mais alto clero. Atacar a Igreja era restaurar o cristianismo (César Bórgia no trono papal seria o espírito da Renascença, o seu verdadeiro símbolo” (N. visava, evidentemente, os ataques de Lutero ao catolicismo renascentistas, acrescentando que os seus compatriotas “me deixam num abandono absoluto”(carta de Turim, em 20-XI-1888, p.301). A antipatia por Lutero é expressa de modo acentuado no Ecce Homo: “Foi Lutero, esse monge fatal, quem restabeleceu a  igreja e, pior mil vezes, o cristianismo no próprio momento em que este sucumbia.”(pp.168-9).


[30] Veja-se: − E.F.Podach, L’Effondrement de Nietzsche, Paris Gallimard, 1978, maxime p.491 e ss. N. enlouqueceu em Turim, em 3-I-1890, foi levado para a clínica em Iena (p.65 e ss, 130 e ss), depois para Basileia (pp.111 e ss) e  para Weimar (pp.159 e ss, 162 e ss), passando a irmã a tomar conta dele, gerindo ela os seus direitos autorais (pp.151-8), vindo também a sua mãe visitá-lo, falecendo o filósofo em Weimar, em 25-VIII-1900 ( pp.172-4). Em 1896, Elizabeth conseguira apoderar-se do espólio literário do irmão, criando em 1897 um Arquivo Nietzsche em Weimar, na Wörthstrasse, nº5. Além da publicação abusiva e falsificada da Vontade de Poderio (Wille zur Macht), Lizabeth reeditaria um Ecce Homo truncado, empresa na qual colaborou Peter Gast sem se dar conta da deturpação feita pela irmã do filósofo. Recordemos que Peter Gast era o pseudónimo de Heinrich Köselitz (1954-1918). K. e N. conheceram-se em Basileia, quando o filósofo ali ensinava, tendo-lhe este dado a alcunha de “Peter Gast” (Convidado de Pedra , alusão à personagem do Don Giovanni de Nozart). K. estudou música em Leipzig, tornando-se amigo íntimo de N., ajudando-o quando este teve problemas de visão, transcrevendo textos que aquele lhe ditava, desde 1876 em diante, assim como havia de colaborar com Elizabeth, a irmã do filósofo quando esta dirigiu o Arquivo Nietzsche em Weimar, desde 1899 a 1909, e levou adiante a edição espúria de Vontade de Poder. K. compôs a ópera O Leão de Veneza, que só seria levada à cena, com outro título, em Danzig (1891), publicando ainda, sob diversos pseudónimos, alguns livros.Veja-se Nietzsche,  Dernièes Lettres  - Hiver 1887 – Hiver 1889 (Paris, Éditions Manucius, 2011 (lista  e biografias dos seus correspondentes neste período: pp.247-53; P.Gast: pp.249-50).


[31] Para o final da vida de Nietzsche, ver o vol. 4 da biografia que lhe dedicou Curt Paul Janz,  Friedrich Nietzche, 4. Los Años de Hundimiento.(Enero de 1889 hasta la miuerte el 25 de Agosto de 1900), Madride, Alianza Editorial, 1986, maxime pp.22 e ss (o colapso mental de N. em Turim), e 141-174.


[32] Wilhelm Frick concedeu subsídios ao Arquivo Nietzsche em Weimar (sobre as sua relações com Elizabeth Nietzsche-Förster, vide B.Macintyre, op. cit., pp.179.80, 194 e 196 -7). W. Frick (Alsenz, Palatinado, em 12-III-1877,1877 – Nuremberga, 16-X-1946), estudou direito em Göttingen e Heildelberg, foi dispensado de fazer a guerra por deficiência pulmonar, dirigiu a polícia bávara de 1919 a 1923 e a secção criminal até 1925, convertendo-se à ideologia nazi e participando no Putsch da cervejaria, sendo então detido por quatro meses par investigação, tornando-se um dos elementos mais afectos a Hitler nesse período, foi nomeado ministro do Interior e da Educação da Turíngia (1932), região onde combateu a influência dos socialistas, criou na Universidade de Jena uma cátedra de Antropologia Social para o professor racista Hans F. K. Günther, proibiu o livro pacifista de Erich Maria Remarque Nada de novo na Frente ocidental, procedendo ainda a uma purga de todos os elemento da polícia adversos ao nazismo, sendo depois recompensado com o lugar de Ministro do Interior do Reich, afastando todos os juízes e advogados judeus em Berlim, publicando em 15-IX-1935 as leis da cidadania e da raça de Nuremberga. proibindo os judeus de se casarem com não-judeus, relegando-os  para uma categoria de segunda classee mandando cerca de 100.000 deles para campos de concentração. Em 1943, por inimizade de Himmler, é perde a sua influência no III Reich, sendo nomeado protector da Boémia-Morávia. Acusado pelo Tribunal de Nuremberga de crimes contra a humanidade, crimes de guerra e ainda por ser largamente responsável por ter nazificado o regime alemão através de leis e práticas racistas, sendo enforcado em 16-X-1946.


[33] Baldur Von Schirach (Berlim, 1907 – Kröv, 1974), chefe da Juventude Hitlekria (Hitler Jugend), filho duma americana e dum oficial prussiano, conhece Hitler aos 16 anos de idade, entra aos 18 para o NSDAP,  e abre os salões da grande burguesia de Berlim ao líder dos nazis, sendo nomeado chefe de todas as juventudes do partido, como a Hitler Jugend, as associações de estudantes alemães e os albergues de juventude. Em 1939 ingressa no exército, estando entre as tropas que ocupam a França em 1940, sendo depois nomeado Gauleiter em 1940 da região de Viena, conduzindo uma política de deportação de judeus, embora acabasse por protestasse contra o extermínio sistemático destes, o que o faz cair em desgraça. No julgamento de Nuremberga é condenado a 20 anos de prisão, sendo libertado após o cumprimento dessa pena.


[34] B. Macintyre, op. cit., p.197.


[35] Fritz Sauckel (Hassfurt am Main, 27-X-1894 – Nuremberga, 16-X-1946),  trabalha a bordo de vários paquetes e, depois da grande guerra, estuda engenharia  durante dois anos, desempenha vários mesteres,  como perito de construção, entra para a SA (1922) e filia-se no NSDAP(1923), tornando-se notado p4la sua fidelidade a Hitler,  sendo nomeado Gauleiter da Turíngia em 1927, depois  governador da Turíngia (1933) e deputado no Reichstag e depois comissário da Defesa do Reich (1942), pondo ao serviço do III Reich a mobilização maciça dos trabalhadores alemães e estrangeiros, sendo responsável pelo maior sistema de escravatura da história europeia, como Plenipotenciário Geral par a Mão de Obra, o que valerá ser julgado no Tribunal de Nuremberga por crimes contra a humanidade e  crimes de guerra, sendo enforcado a 146-X-1946.


[36] Sobre o pacto germano-soviético de 25-VIII-1939, veja-se Yves Santamaria,  1939, le Pacte germano-soviétique, Bruxelas, Éditions Complexe, 1998 (o tratado e os protocolos anexos: pp.19-132).


[37] O psiquiatra americano Leon M. Goldensohn (N. Iorque, 1911 – 24-X-1961), alistado no exército americano em 1943, seria encarregado pelo tribunal militar internacional, reunido em Nuremberga para o julgamento dos dirigentes nazis ali presos, de prestar assistência psiquiátrica, de Janeiro a Julho de 1946, por um lado, vigiando a saúde mental dos réus e por outro, conversando com eles, entrevistas que reuniu num livro de enorme interesse histórico: Les Entretiens de Nuremberg conduits par Leon Goldnsohn, introd. de Robetrt Gellately, Paris, Flammarion, 2004: veja-se o que ele escreve, v.g., sobre  Rosenberg (pp.255-62), Sauckel (pp.263-76),  Frick (pp.83-90) e Baldur von Schirach (pp.299-14). Veja-se ainda as entrevistas com Goering (pp.150-186), Hess (pp.187-9) e J.Streicher (pp.317-28).

1 comentário:

  1. Em adolescente, comprei numa banca de rua a 1ª edição portuguesa (“Afrodite”, do saudoso Fernando Ribeiro de Mello). Não me recordo de haver alguma vez lido um livro mais enfadonho. Nunca cheguei a compreender porque é que uma coisa daquelas era proibida.

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