quinta-feira, 16 de junho de 2016

Iwo Jima, mon amour.

 
 


         Apre, é uma praga: em todas as fotografias históricas surgem sempre dúvidas quanto à sua autenticidade. Ou quanto à identidade dos fotografados. Desde o V-Day em Manhattan ao soldado caído na guerra civil espanhola, não há uma que escape. Agora, chegou a vez da imagem célebre, celebérrima, imortalizada em estátuas colossais, da Bandeira dos Nossos Pais, título do livro de James Bradley adaptado ao cinema por Clint Eastwood.
 

 
 
 
 
         Em 2014, uma investigação minuciosa do Omaha World-Herald concluiu que, no grupo de seis marines fotografados por Joe Rosenthal em Iwo Jima, em 23 de Fevereiro de 1945, não figurava John Bradley, o pai de James, o autor do livro adaptado ao cinema.
         Aliás, a fotografia de Rosenthal tem uma história atribulada, que começou em 1946, quando a Time Magazine lançou a suspeita, que viria a revelar-se infundada, de que tudo não passara de uma encenação (ver aqui a história de Raising the Flag on Iwo Jima). Tiraram-se fotografias no local, sim senhor, até mais do que uma. Quem tiver tempo, não perca a reportagem do Omaha World-Herald, um prodigioso trabalho de pesquisa, onde nenhum pormenor escapa.
 
A versão «oficial»
 

 
 
 
 
         Mas a grande novidade é que, há uns dias, James Bradley – um dos mais populares autores de obras sobre a guerra no Pacífico, entre as quais Flags of Our Fathers – admitiu que é possível, mesmo provável, que o seu pai não esteja no grupo fotografado por Rosenthal (aqui, no NY Times). E o Marine Corps abriu um inquérito. Aguarda-se o veredicto. Mas, para já, está montado o circo, admitida a reasonable doubt que, no limite, deita por terra um livro e um filme. Bem, o livro e o filme manterão as suas qualidades, isso não está em causa. Mas que o fulgor e a emoção de tudo isto sofrem algum abalo, disso não há dúvida.

 




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