sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Os diabos de Amarante.


 
 
 


 
         Muitos conhecem a história dos Diabos de Amarante, em versão demónio-macho e demónio-fêmea. Com abundantes pormenores, a história da ida dos demos para Inglaterra e o seu resgate pelos amarantinos é contada aqui, na narrativa oficial do município.
 
 

 
         Facto curioso – e não sei se muito conhecido – vem contado num livro de memórias e impressões várias. Coisas da Vida, de José Bensaúde, publicado em Lisboa, 1964. Conta Bensaúde que seus pais, através do seu grande amigo Dr. Agostinho de Campos, se relacionaram com um Alfredo de Magalhães e Pedro de Gusmão. Por sua vez, esta tertúlia relacionava-se com Gerald Sandeman, um londrino ilustre, ligado por laços de família aos viscondes de Moncorvo, que por sua vez eram íntimos de Alfredo de Magalhães, oficial de Marinha e fidalgo de Penafiel.
         Um dia, Magalhães, estando em Londres, foi recebido por Gerald Sandeman na sua casa de vinhos (sim, essa mesmo). E foi lá que, no hall, junto ao bengaleiro, topou o fidalgo penafidelense com o estranho casal demoníaco. Tendo sabido que fora o avô de Gerald que levara o Diabo e a Diaba para Inglaterra, idos directamente da capela do Convento de São Gonçalo, tudo fez Magalhães para desvendar o mistério. Com a ajuda do Dr. António L. Cerqueira, senhor da casa da Calçada de Amarante, e do grande Leite de Vasconcelos, conseguiu o Dr. Magalhães reconstituir a lenda medieval, que, por ser já muito antiga, nos abstemos de contar aos leitores do Malomil.
         Alfredo de Magalhães e José Leite de Vasconcelos decidiram escrever ao cavalheiro britânico, pedindo, implorando, exigindo (chegaram a invocar a Aliança!) a restituição dos diabos à amarantina procedência. O diabo está nos detalhes ou, melhor, meteu-se a demoníaca burocracia alfandegária e, apesar da boa vontade de Mr. Sandeman  (segundo outras versões, não terá sido assim tão boa, a vontade dele), mil e um entraves administrativos. Não se previra a importação de diabos! E, como diz Bensaúde, «era portanto necessário rever as pautas alfandegárias». Parece uma coisa dos infernos, e talvez seja apenas uma história que José Bensaúde ouviu dizer. Não sei. Só sei que se meteu ao barulho um filho ilustre de Amarante, António Lago Cerqueira, que, juntamente com Magalhães e Pedro de Gusmão, endereçou cuidado requerimento ao Director da Alfândega do Porto. Este, prudente e cauteloso, não querendo meter-se em negociatas de import-export de enxofre e materiais diabólicos, considerou que a competência para decidir pertencia… ao Presidente da República. E, assevera Bensaúde, foi Manuel de Arriaga quem teve de resolver o infernal embaraço, autorizando a entrada pelas fronteiras portuguesas de (mais) um Diabo e (mais) uma Diaba, que finalmente por cá desaguaram, encontrando-se hoje expostos, e bem de saúde, no Museu Amadeo de Souza-Cardoso. Sendo verdadeira ou falsa, aqui fica a história, directamente importada, sem taxas nem quaisquer tributos, do livro Coisas da Vida. E esta história aqui fica exarada & timbrada para o Rui Passos Rocha, jovem fidalgo de Penafiel a quem  mando um grande abraço, com a amizade do
 
António Araújo
 
 
 
 

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